No dia 19 de janeiro de 2025, durante a posse do segundo mandato do Presidente estadunidense Donald Trump, o mundo testemunhou em tempo real mais um passo da consolidação do que o economista, acadêmico e ex-ministro de finanças da Grécia Yanis Varoufakis definiu como “Tecnofeudalismo”. Segundo Varoufakis, as relações capitalistas chegaram em uma nova etapa ultramonopolista nas mãos dos donos das Big Techs, os “cloudalistas”, outro termo do autor em seu livro “Technofeudalism: What Killed Capitalism”.
Isso ficou muito claro na repercussão da posse, já que as imagens e notícias mais comentadas foram as relacionadas à presença em lugar de destaque de Mark Zuckerberg (META), Jeff Bezos (Amazon), Sundar Pichai (Google), Tim Cooke (Apple) e Elon Musk (Tesla e X), que também assumiu como Secretário do “Departamento de Eficiência Governamental” dos EUA.
As Bigtechs já anunciavam esse alinhamento há algum tempo. No início deste ano, a Meta divulgou o encerramento do programa de checagem de fatos em suas redes, medida que foi elogiada por Trump, o que era de se esperar, já que o então candidato fez uma campanha inteira baseada em fake news sobre imigrantes. Essa relação das grandes empresas de tecnologia com a extrema direita global possui diversas motivações, entre elas, os grandes lucros com a desinformação e o engajamento de discurso de ódio nas mídias sociais.
A cada ano que passa, as grandes corporações de tecnologia têm enfrentado pressões de governos pela regulamentação das suas ações. O próprio o Governo americano na gestão Biden abriu processos antitruste contra o Google e a Amazon. A União Europeia entre 2023 e 2024 aplicou multas que totalizam €23 bilhões à Apple e Meta. Também é importante destacar o embate de Elon Musk e o Supremo Tribunal Federal do Brasil, que por mais de um mês bloqueou as atividades da mídia social X no país por conta do descumprimento da empresa às leis brasileiras.
A contraofensiva das Big Techs ao esforço regulatório dos países veio na apropriação de uma das maiores e mais decadentes democracias do planeta. Sob a fachada de um “Governo Trump”, novos senhores feudais como Musk e Zuckerberg utilizam a influência e poderio americano para ampliar e consolidar seus próprios projetos de poder no planeta. Esse é o maior significado do gesto nazista de Elon Musk na posse: o anúncio de que um ataque supremacista oligárquico está em curso sobre o que resta das nossas frágeis repúblicas e democracias.
Mais do que regular as redes, é preciso soberania
Uma das maiores lições que podemos aprender diante dos últimos fatos é a de que não basta regular o funcionamento das plataformas de mídias sociais e outros serviços das big techs, mas também é preciso que os Estados e as instituições invistam em suas próprias infraestruturas e serviços digitais. Mais do que nunca, os países, principalmente os do sul global, precisam fortalecer suas soberanias digitais.
Soberania Digital é a capacidade de um país ou nação de controlar, regular e proteger seus dados, infraestruturas digitais e sistemas de informação, garantindo que essas áreas estejam sob jurisdição e gestão nacional, sem dependência excessiva de outros países ou entidades estrangeiras. Esse conceito ganhou relevância com a crescente digitalização da sociedade e a importância estratégica dos dados e das tecnologias da informação.
Na América Latina temos um exemplo de soberania digital muito importante e histórico, o Projeto Synco, implantado no Governo de Salvador Allende no Chile. Allende assumiu a presidência chilena em 1970 sob uma proposta socialista apresentada como uma “terceira via” entre os extremos representados pelos Estados Unidos e União Soviética na Guerra Fria.
Entre as promessas do novo governo chileno estava estatizar a propriedade de empresas e indústrias estratégicas que se encontravam sob o comando de multinacionais estrangeiras, redistribuir renda e criar tecnologias de participação social dos trabalhadores na gestão pública.
Diante do desafio de administrar mais de 50 empresas socializadas, o engenheiro Fernando Flores, que trabalhava em uma agência governamental de estatização, procurou Stafford Beer, um especialista britânico em cibernética, para formar uma equipe de engenheiros e desenvolverem o sistema Synco (ou “Cybersyn”, em inglês). O objetivo do programa era auxiliar o Governo chileno na coordenação da economia estatal, aumentar a participação dos trabalhadores na economia e preservar a autonomia das fábricas.
O Synco processava diariamente os dados de produção das fábricas para a geração de projeções e indicadores econômicos e uma sala de operações futurista projetada para facilitar a tomada de decisão do governo.
Com apenas cerca de 50 computadores obsoletos no país, e sem apoio da IBM (que reduziu suas operações no Chile após a eleição de Salvador Allende), além de um "bloqueio invisível" do governo Nixon para desestabilizar a economia chilena, a equipe liderada por Stafford Beer precisou improvisar. A solução adotada foi conectar os computadores disponíveis a centenas de máquinas de telex criando uma rede funcional, embora menos sofisticada que a ARPANET dos EUA. Essa rede foi crucial durante uma greve nacional em 1972, quando o governo a utilizou para coordenar a distribuição de recursos e manter a produção industrial. O sistema, embora simples, melhorou a comunicação governamental e demonstrou que era possível fazer mais com menos, evitando o modelo soviético de coleta massiva de dados e focando em indicadores-chave de produção.
No entanto, o projeto foi interrompido pelo golpe militar de 11 de setembro de 1973, que resultou na morte de Allende e instaurou uma ditadura que durou 17 anos. O regime militar, aliado a políticas neoliberais, encerrou o Synco antes de sua conclusão, considerando-o incompatível com a nova “orientação econômica” do ditador Augusto Pinochet, que como bom vassalo dos Chicago Boys, transformou o país em um laboratório neoliberal, com privatizações, reforma trabalhista concentração de renda.
Do Chile para a China
Da experiência do projeto Synco / Cybersyn, podemos destacar que, por mais que sejam difíceis as condições, é possível investir na soberania digital de um país e que o maior preço de ações como essa é redobrar a atenção e estar sempre alerta, já que os boicotes e sabotagens surgirão.
É justamente o que a startup chinesa DeepSeek enfrenta atualmente. Logo após o lançamento e sucesso do novo modelo de inteligência artificial (IA), políticos americanos têm elaborado leis que vão desde proibições a possíveis sanções severas.
O DeepSeek se destaca por seu custo reduzido de desenvolvimento, com um orçamento estimado em US$ 6 milhões, significativamente menor que o de concorrentes como o Llama 3.1 da Meta, que custou mais de US$ 60 milhões. Essa eficiência financeira enfureceu os cloudalistas, que imediatamente utilizaram de seus canais na mídia e nos governos ocidentais para barrar essa tecnologia.
Outro diferencial é a abordagem da DeepSeek parcialmente aberta, permitindo que pesquisadores acessem seus algoritmos. Isso democratiza o acesso à IA avançada e incentiva a colaboração global, ou seja, a utilização de tecnologias abertas (softwares livres) foi fundamental para o sucesso da IA.
Tecnologia Livre: o código fonte da Soberania
Outra grande contribuição da filosofia do Software Livre para a Soberania Digital de países, Estados e populações é o Fediverso (uma junção de “federação” e “universo”), um conjunto de tecnologias utilizadas para hospedagem distribuída de arquivos e publicações na web. A principal característica desse ambiente é a descentralização executada por protocolos de comunicação em padrão aberto. Os usuários podem criar suas identidades em qualquer uma das plataformas instaladas em diferentes servidores (chamados de “instâncias”) e, através de um único perfil, interagir e trocar informações com todos os outros perfis e instâncias dessa rede que já conta com milhões de pessoas conectadas no planeta.
O Fediverso é uma alternativa fundamental para a redistribuição da Internet, porque proporciona autonomia aos usuários e instituições, e oferece alternativa às plataformas centralizadas de mídias sociais. Este universo federado é uma tecnologia muito potente contra o domínio das Bigtechs pelas plataformas sociais. Cabe aos Governos investirem nessas tecnologias e oferecerem às suas populações alternativas saudáveis e não os feudos digitais.
Thiago Skárnio é produtor multimídia, coordena a Associação Alquimídia e integra os pontões de cultura Pátria Grande, Catarina e Colaborativas.
Referências:
https://jacobin.com.br/2020/09/a-revolucao-cibernetica-socialista-de-allende
https://pt.wikipedia.org/wiki/Synco
https://alquimidia.org/fediverso
https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/assim-funcionao-tecnofeudalismo
https://ultracombo.com.br/deepseek
https://alquimidia.org/ia-e-software-livre-um-ecossistema-possivel
Por: Claudia Sheinbaun, Presidenta de Mexico
“¿Por qué el imperialismo quiere vernos divididos?
Porque sabe que juntos somos invencibles. Estados Unidos, potencia que se viste de democracia mientras exporta golpes de Estado, ha clavado sus garras en nuestra tierra con una estrategia clara: dividir para saquear.
En Chile, financió el golpe contra Allende para imponer a Pinochet y regalar el cobre a sus corporaciones. En Nicaragua, armó a los Contras para ahogar en sangre la Revolución Sandinista. En Venezuela, desató una guerra económica y sanciones criminales para robar el petróleo y doblegar a un pueblo que se atrevió a mirar al futuro con soberanía.En Brasil, utilizó el Lawfare para encarcelar a Lula y frenar el ascenso de los pobres. En Bolivia, apoyó un golpe contra Evo Morales para entregar el litio a sus transnacionales.En Cuba, mantiene un bloqueo genocida por seis décadas, castigando a un pueblo que eligió ser dueño de su destino.
Desde las tierras ardientes del Río Bravo hasta las aguas embravecidas de la Tierra del Fuego, somos un solo pueblo, una sola alma tejida con los hilos de la resistencia, la dignidad y los sueños compartidos. La Patria Grande no es una utopía: es el latido de nuestra historia, la memoria viva de quienes lucharon por vernos libres, desde Túpac Amaru hasta Bolívar, desde Martí hasta el Ché Guevara. Es el territorio sin fronteras donde el quechua, el español, el portugués, el guaraní y todas las voces originarias se funden en un coro que canta: ¡Unidad!
Cada herida abierta en un país es un ataque a todos.
El imperialismo no teme a gobiernos aislados: teme a los pueblos unidos. Nos han impuesto tratados que privatizan el agua, la salud y la educación; han militarizado nuestros territorios para controlar recursos; han manipulado medios de comunicación para sembrar el miedo y el individualismo. Pero su arma más letal es hacernos creer que somos enemigos, que la pobreza de uno es culpa del otro, y no del sistema Capitalista que nos desangra.
La Patria Grande es la respuesta. Es el abrazo solidario entre el obrero argentino y el campesino colombiano; entre la maestra mexicana y el ingeniero venezolano; entre los jóvenes que en las calles de Perú, Ecuador y Honduras exigen justicia. Es entender que la independencia de Haití, lograda con sangre en 1804, es tan nuestra como la victoria de Ayacucho. Es saber que cuando Paraguay fue masacrado en la Guerra de la Triple Alianza, no perdieron solo los paraguayos: perdimos todos.
Unidos no somos víctimas: somos titanes. La Zamba de Vargas, la batalla de Carabobo, el grito de Dolores, la resistencia mapuche, las Madres de Plaza de Mayo, los zapatistas alzando la voz en Chiapas… Cada lucha es un eslabón de la misma cadena que hoy nos llama a romper las cadenas. La soberanía no se negocia: se defiende, y para defenderla, necesitamos una unión política, económica y cultural que nos permita intercambiar sin depender del dólar, producir alimentos sin agrotóxicos, educar con pedagogías liberadoras y proteger nuestra Amazonía como pulmón del mundo.
Hermanos, no nos equivoquemos: el enemigo es el mismo.
Mientras Wall Street especula, nuestros pueblos hambrean. Mientras Hollywood nos vende falsos ídolos, entierran nuestras identidades. Pero tenemos algo que ellos jamás tendrán: la certeza de que la historia la escriben los pueblos.
Hoy, cuando el neoliberalismo recicla su rostro con falsas promesas, cuando la Cuarta Flota estadounidense vigila el Caribe y las bases militares se multiplican en Colombia y Brasil, es hora de gritar con una sola voz: ¡Basta de injerencia! ¡Basta de saqueo!
Que resurja la UNASUR, que crezca el ALBA, que la CELAC sea nuestro escudo. Organicemos asambleas populares, redes de comunicación propia, monedas regionales, ejércitos de maestros y artistas que despierten conciencias. Porque la verdadera independencia se conquista con educación, organización y amor al prójimo.
Somos la generación que puede hacer realidad el sueño de San Martín y Manuelita Sáenz.
No esperemos a que nos rescaten: seamos nosotros la trinchera, el poema, la semilla. Que cada barrio, cada fábrica, cada aula sea un territorio libre de la Patria Grande.
¡Que viva América Latina unida! ¡Hasta la victoria siempre!
Porque en nuestra unión está la fuerza, y en nuestra lucha, la libertad.”
O Pontão de Cultura Pátria Grande de Integração Latino-americana e Territórios de Fronteira aplaude efusivamente o texto-manifesto da presidenta mexicana Claudia Sheinbaun. Suas palavras, em ampla convergência com o espírito do Pontão Pátria Grande, com o nascente Movimento Cultura Viva Brasil sem Fronteiras e suas articulações na América Latina, apontam para a construção de uma "Patria Grande... territorio sin fronteras". Afirma nossos povos, trajetórias e possíveis caminhos para a superação do imperialismo, do sistema capitalista, do neoextrativismo e das ideologias individualistas e, simultaneamente, a farsa democrática estadunidense. "La soberanía no se negocia: se defiende, y para defenderla, necesitamos una unión política, económica y cultural".
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